Desenho do TikTok pode ser mais crítico que algoritmo
Detalhes visuais do aplicativo o tornam a mídia do momento

O TikTok faz seu dia. A rede social para vídeos curtos chegou a 2 bilhões de downloads neste ano pandêmico.
Os balanços de 2020 já colocam o aplicativo como um dos principais destaques da tecnologia e da cultura.
A expectativa dos analistas é que o TikTok alcance em breve o clube do “1 bilhão de usuários ativos mensais”.
A ByteDance foi fundada em 2012. A plataforma para compartilhar vídeos, Douyin, nome original do TikTok, foi lançada quatro anos depois (setembro de 2016).
Desde 2018, quando tinha 300 milhões de usuários, a rede social triplicou de tamanho.
O competitivo ambiente de desenvolvimento tecnológico chinês mostra que o TikTok foi planejado para ser um produto de sucesso. Os melhores engenheiros estão no projeto.
Sistema de recomendação
O algoritmo do TikTok é o “grande segredo” sobre como tornar um vídeo viral?
Uma nota técnica divulgada em julho na página oficial explica como funciona o feed #Para você.
Segundo a rede social, os vídeos são apresentados de acordo com os interesses do usuário. O objetivo é facilitar como encontrar conteúdo e criadores que “você ama”.
O feed Para você é um dos recursos definidores da plataforma TikTok, mas sabemos que há dúvidas sobre como as recomendações são entregues.
Os sistemas de recomendação são o padrão da internet. Eles estão em virtualmente todos os aplicativos. Funcionam conforme a interação do usuário com os traducionais inputs.
O padrão das redes sociais é trazer conteúdo dos criadores que você ativamente informa ser seguidor.
O TikTok ressalta que o feed Para Você tem a propriedade de refletir preferências exclusivas de cada usuário.
Os fatores iniciais são as configurações do dispositivo e da conta; como idioma, país, e marca do celular.
As recomendações vão se refinando conforme as interações: os vídeos que o usuário gosta e compartilha, as contas que segue, os comentários, o conteúdo que publica.
O ritmo de diversas interações por minuto na passagem dos vídeos faz o aplicativo ter um alto número de informações sobre o usuário.
No YouTube, o usuário pode demorar minutos para uma interação. Na Netflix, pode passar horas inativo.
No TikTok, o algoritmo avalia os segundos que o usuário assiste ao vídeo. O tempo de reação para determinadas categorias. A intensidade do toque ao mudar de vídeo.
A empresa garante não haver dois feed iguais: “parte da mágica do TikTok”.
Após alguns dos mesmos vídeos em destaque, o feed de cada pessoa é único e personalizado para aquele indivíduo específico.
O número de seguidores é um fator para que os criadores consigam um vídeo viral. No entanto, perfis com poucos seguidores conseguem milhares de visualizações que se destacam.
Uma das questões é como esse funcionamento altera a criação de “bolhas” que costumam ocorrer nas redes sociais. O TikTok possui uma opção de feed com apenas os perfis que o usuário segue.
Neste ano, o TikTok introduziu um fundo para remunerar os criadores: Creater Fund. Só nos Estados Unidos, o investimento pode chegar a US$ 1 bilhão em três anos.
O anúncio tem paralelos com o Medium Patner Program, programa que remunera os escritores no Medium a partir do tempo de leitura dos assinantes.
Limite do tempo

De certa forma, a economia da atenção, base do uso das redes sociais, tem uma limitação por usuário: os dias ainda possuem apenas 24 horas.
Um dos aspectos que mais chama atenção do TikTok é o elevado número de visualizações que as publicações alcançam.
Isso porque um usuário pode consumir de 4 a 60 vídeos por minuto.
Em uma hora, um único usuário pode contabilizar 3600 visualizações.
O aspecto do tempo é pilar para os desenvolvedores e designers que trabalham com a experiência e a interface do usuário.
Eu comecei a usar o TikTok há cerca de três meses, quando comprei um Xiaomi Redmi 9A. O aplicativo estava instalado.
Conhecia um pouco do formato do TikTok por virais que chegam a outras redes como Instagram, WhatsApp, Facebook, Twitter.
O desenho minimalista da feed chama atenção por privilegiar o conteúdo enquanto possui diversos espaços de interação.
A disposição dos elementos do aplicativo está pensada para telas grandes dos celulares recentes.
Não sem motivo, o forte apelo do TikTok com os mais jovens, que tendem a ter aparelhos mais novos.
O título da publicação e o nome do criador com @ (destaque em verde na imagem acima) está em uma posição contrária ao padrão da mídia de alto e grande. O texto com fonte de cor branca e tamanho 12 é quase uma legenda.
Outro fato disruptivo é o nome do criador e seu avatar (destaque em amarelo) estarem em posições distintas. Os botões de curtir, comentar e compartilhar têm o mesmo tamanho do avatar.
Entre as áreas destacadas em verde e amarelo está o principal espaço de rolagem da feed. Seu posicionamento fica exatamente na curvatura que o polegar faz para quem segura o aparelho com a mão direita.
As opções de início, busca, criação, caixa de entrada e perfil (destaque em azul-claro) usam o contraste branco em um fundo preto com delicado grafismo.
O único elemento sem o estilo minimalista é o botão criação, que tem o efeito 3D do logo do TikTok criado pela mistura do azul com vermelho. Esse efeito traz memória de antigos filmes e imagens 3D para serem vistos com óculos que tinham lentes de duas cores.
O aplicativo do TikTok possui uma intuitiva ferramenta de criação que permitem com facilidade a edição e a inclusão de efeitos animados e a utilização de músicas. Na rede social das “danças”, o avatar do músico tem o mesmo tamanho do criador (destaque amarelo).
A composição da tela permite aos usuários consumirem vídeos em um ritmo alucinante ajudando a criar o efeito viral.
Monetizando
O crescimento da audiência do TikTok faz o mercado de publicidade e de vendas pela internet se interessar pela plataforma.
Os anúncios no aplicativo são muito parecidos com os próprios vídeos. Os tiktokers também podem buscar a monetização das milhares de visualizações.
Em uma rede social que privilegia o entretenimento e a diversão, qual deve ser a recepção que pautas mais séria deve receber.
A toxicidade em redes como Twitter e Facebook, incluindo discussões políticas, afastaram usuários.
Os efeitos das mídias na saúde mental das pessoas é um dos temas prioritários do debate político e econômico.
Será que os engenheiros do TikTok irão permitir que esse erro aconteça? São questões devem pautar os especialistas em mídia em 2021.